A escolha do centro de São Paulo para essa atuação parte da complexibilidade e riqueza deste território. Ao caminhar por bairros como Luz ou Bom Retiro é possível reconhecer uma diversidade de nacionalidades.
O centro da maior cidade do Brasil é, assim, um espaço em permanente construção. Se por um lado a região concentra o maior número de equipamentos culturais e de serviço da cidade, por outro, ainda enfrenta diversos desafios.
Para além da troca cultural, que colabora no enriquecimento da própria região, o local ainda apresenta alguns desafios que merecem a atenção daqueles que permeiam esse território, como a realização de um acolhimento e integração entre os diversos sujeitos que o formam.
Dentre as problemáticas que compõem essa região de São Paulo, está o processo de esvaziamento dos centros urbanos, que, de diversas maneiras, também se reflete nas relações entre as pessoas e o território.
Nesse sentido, as ações do projeto não se restringem ao equipamento escola, extrapolando seus muros e buscando no Bom Retiro como as pessoas que ali vivem se tornam co-autoras dele, influenciando assim sua relação com a escola.
Dentro deste processo de atuação e diagnóstico que ocorre desde fevereiro de 2016 nota-se a necessidade da visibilizar este bairro, na perspectiva de entendê-lo como território de múltiplas histórias, de mostrar as culturas que o compõe, principalmente, de viabilizar as suas incontáveis possibilidades educativas.
Em maio, um pequeno documentário foi realizado em parceria com o Instituto Criar, nele, familiares dos/as estudantes da EMEI João Theodoro, que moram no Bom Retiro, contaram como era brincar na sua infância, com quem e onde brincavam. Essa pequena ação possibilitou o reconhecimento das diversidades do bairro e das possibilidades que ele possui.
Daí em diante a demanda pela visibilização das histórias só cresceram, seja por parte da população, dos migrantes, das educadoras e dos serviços, visto que conhecer as memórias que compõem os lugares nos permite sentir que somos parte desta história. Esse conhecimento pode propiciar a renovação das imagens preconcebidas do bairro e que possivelmente afasta boa parte da população paulistana dele.
População migrante
Segundo José Manuel Valenzuela, professor do departamento de Estudos Culturais do Colégio da Fronteira Norte, no México “A migração é uma parte fundamental dos processos que definem o ambiente urbano. O que estamos enfrentando no mundo atual são processos migratórios marcados por grandes condições de vulnerabilidade, violência e morte”,
Desde a primeira metade do século 20, com a chegada dos italianos e japoneses, passando pelas décadas de 90 e início dos anos 2000, com os bolivianos e, mais recentemente, a entrada de refugiados sírios, haitianos ou angolanos, o Bom Retiro traz o mundo inteiro em suas ruas, restaurantes e comércios, que se somam à própria multiculturalidade brasileira.
As cidades, em termos amplos, se transformam com a presença de migrantes, no entanto, o que vem acontecendo em muitas escalas é a ausência de representações para a incorporação humanizada dessa população.
Desde que o projeto se iniciou, nota-se que há um efeito de evitar o desconhecido, que se manifesta por meio de pré-concepções que chegam diretamente nos serviços sociais que atuam diretamente com estas populações, como as escolas e serviços das redes socioeducativas.
A atuação junto a esses espaços demonstrou como a falta de conhecimento ainda emperra no serviço oferecido a essas populações, tornando a sua estadia na cidade algo ainda mais complexo. Isso acontece porque a falta de formação qualificada afeta muitos desses serviços, impedindo-os de realizar um tratamento que dê conta das peculiaridades dos sujeitos imigrantes, assim como suas culturas e costumes.
Como moradores ou trabalhadores do território do Bom Retiro, é de extrema importância levantar esse debate, mostrando que deve haver uma cooperação entre os diversos atores para que os direitos dessas populações possam ser efetivamente assegurados.